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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) lamentou na segunda (12) a vitória da oposição nas eleições primárias da Argentina, indicando possível derrota de seu aliado, Mauricio Macri, no pleito de outubro. A declaração foi dada em Pelotas (RS), em evento para inaugurar 47 km de duplicação da rodovia BR-116. No domingo (11), a chapa liderada por Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, conquistou 47% dos votos, superando o atual presidente em mais de 15 pontos.

9803a319e955afbe52ec07c42477760fFoto: Marcos Corrêa / Procuradoria da República / Divulgação

Caso os números se repitam na eleição de fato, em outubro, Fernández seria eleito em primeiro turno –ele precisa ter mais de 45% dos votos ou mais de 40% e no mínimo 10 pontos percentuais de vantagem. Frente ao resultado, Bolsonaro, que apoiou abertamente Macri, disse que o Rio Grande do Sul pode se transformar no estado de Roraima caso Cristina Kirchner volte ao poder, comparando a Venezuela de Maduro à Argentina.

"Não esqueçam, mais ao Sul, na Argentina, o que aconteceu nas eleições de ontem. A turma da Cristina Kirchner, que é a mesma de Dilma Rousseff, Hugo Chávez, Fidel Castro, deu sinal de vida. Povo gaúcho, se essa esquerdalha voltar na Argentina, poderemos ter no Rio Grande do Sul um novo estado de Roraima", disse. "Vocês [gaúchos] podem correr o risco de, ao ter uma catástrofe econômica lá, como teve na Venezuela, ter uma invasão da Argentina aqui. Não queremos isso para nossos irmãos", afirmou.

Roraima vem recebendo número crescente de venezuelanos que fogem do país em função da crise econômica e política que se arrasta desde 2015
Há mais de 30 mil cidadãos do país vizinho em Roraima, estado de 576 mil habitantes, segundo o IBGE. O governo diz que o estado abriga ao menos 40 mil venezuelanos. À noite, Bolsonaro disse que não pretende romper com a Argentina, mesmo com uma eventual vitória de Fernández.

"A gente vai ver como é que fica a situação [entre os dois países]. Eu [não quero] romper unilateralmente. Mas ele mesmo [Fernández] falou que quer rever o Mercosul. O primeiro sinalizador é de que vai ser uma situação bastante conflituosa", afirmou. Segundo ele, o desejo de seu governo é ter "integração e prosperidade" com a Argentina. "Não é ajudar o Macri ou não ajudar. Um país com esses números [econômicos], a tendência é o quê? Se transformar numa nova Venezuela."

O vice-presidente Hamilton Mourão, por outro lado, avaliou que Macri sofreu uma derrota "meio contundente" e que o governo brasileiro deve dialogar com Fernández caso ele vença a eleição presidencial. À reportagem o general observou que a economia do país vizinho "não está bem" e que os argentinos optaram pela mudança nas primárias. "As pessoas querem mudança, né? Eu acho que a derrota do Macri foi meio contundente", disse.

Ele lembrou de citação do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Henry John Temple (1784-1865), o Lord Palmerston. "É lógico que tem de ter [diálogo]. Um dos grandes estadistas ingleses, o Lord Palmerston, dizia: 'Nós não temos amizades eternas nem inimigos perpétuos. Apenas os nossos interesses'", concluiu.

A vitória da oposição nas primárias argentinas representou um revés para Bolsonaro, na avaliação de integrantes da cúpula militar e da diplomacia brasileira. O diagnóstico feito por eles à reportagem, em caráter reservado, é de que o presidente se equivocou ao se envolver de maneira ativa na disputa do país vizinho e que seria adequado, neste momento, reavaliar o discurso, moderando o tom.

Desde maio, Bolsonaro tem feito reiterados ataques a Cristina, inclusive à imprensa estrangeira, e já pediu à população argentina que não votasse na hoje senadora. Nas palavras de um assessor palaciano, as críticas foram "desnecessárias" e acabaram apenas por criar um ônus em assunto no qual Bolsonaro não tem relação direta.

A avaliação de auxiliares é de que a manutenção do discurso belicoso, diante da chance de vitória da oposição, pode dificultar uma composição entre Brasil e Argentina no futuro, sobretudo no momento em que se negocia o acordo entre Mercosul e União Europeia. Para evitar um contratempo, eles defendem que Bolsonaro interrompa os ataques à chapa vencedora e faça gestos de diálogo, mesmo que ele siga se opondo à esquerda. Um assessor diplomático, no entanto, ressalta que não é do temperamento do presidente recuar em questões ideológicas.

Fernández já disse que pretende rever o pacto comercial com a União Europeia, porque, na opinião dele, foi feito de maneira precipitada devido à disputa eleitoral e pode prejudicar a indústria argentina. À tarde, no Twitter, o kirchnerista agradeceu mensagem do ex-presidente Lula parabenizando-o pela vitória.

Fonte: FolhaPress