Hoje, (12), é uma data extremamente expressiva, pois além de ser o Dia de Nossa Senhora Aparecida, e Dia da Criança, é também o Dia da Leitura. Para bater um papo sobre a data literária, o Jc24horas entrevistou o escritor canavieirense Abdias Castro, que é autor de nada menos que 19 livros publicados. Confira a entrevista:
JC - Como é que está o hábito da leitura do povo brasileiro? Monteiro Lobato disse que um país se constrói com homens e livros, o Brasil está realmente sendo construído com homens e livros?
ABDIAS CASTRO - A leitura permanece como sempre esteve, nunca houve uma época no Brasil um tempo em que a leitura se destacou, que o povo brasileiro estivesse com o hábito de ler em ascensão. A leitura sempre precisou de 'incentivos' Quando se fala em leitura na escola tem sempre a palavra 'incentivo'. Incentivar uma pessoa a ler é como tentar convencer uma pessoa de que no fundo do quintal dela existe uma mina de ouro, mas a pessoa resiste a ir explorar. A leitura não é um hábito vulgar, é um hábito de excelência. O público leitor será sempre reduzido, porém nos dias atuais, dias da era digital e da inteligência artificial esse hábito está correndo um grande risco de cair em desuso. Digo inclusive no sentido estudantil, pois a prática da leitura recreativa é que traz conhecimento, a vontade de ler, a paixão pela leitura, não se consegue imprimir em indivíduo algum. Mas, se na base, no ensino primário, isso for trabalhado, não como aquele 'incentivo', mas como disciplina continuada.
JC - Pra tudo na vida é preciso incentivo, no Brasil você acha que existe essa motivação para o hábito da leitura por parte dos administradores em relação aos estudantes?
ABDIAS CASTRO - Essa falha é crônica, o incentivo à leitura deveria ser revisada, tinha que dar um passo atrás e entender que se não há incentivo à escrita, incentivo aos escritores, como podemos incentivar os leitores? A Educação, tenta justificar essa ausência com esses incentivos esporádicos. É uma forma burlesca, extremamente hilária... querem 'incentivar' alunos a ler levando palhaços para a sala de aula. É nadar contra a maré... Porque a leitura é um ato intenso e pessoal, não tem a ver como atrativos externos. A leitura é algo que precisa ser despertada levando-se em conta a realidade do aluno. Quando um palhaço entra em um ambiente a coisa certa que não teremos da audiência é concentração. Então, esse seria o primeiro erro; tentar convencer pelo hilário. Para despertar o interesse de uma criança à leitura, a primeira coisa que deveria existir era a retirada desse fomento estudantil à leitura do contexto recreativo esporádico. Antes disso deveriam existir rodas de leitura, clubes do livro, feiras do livro, crianças sendo incentivadas a contar histórias, (como disciplina escolar). Que essas crianças e adolescentes tivessem acesso a interagir com lendas da literatura piauiense... não adianta remeter a criança a autores distantes e antigos como Drummond de Andrade, Clarice Lispector... traz a criança para a realidade dela, porque está mais perto dela. Isso seria um grande avanço. Trazer essas crianças para conhecer José Paraguassu, dedilhando um violão e falando dos seus livros e poesias. Mas isso não é "lá um dia..." É oferecer oportunidade constante para esse encontro entre o aluno e o escritor, dentro da realidade pedagógica do município. Eu citei "meu município" porque citei o Paraguassu, mas não estou fazendo uma crítica local.
JC - Antes de encerrar me diga até que ponto a tecnologia facilitou para o escritor. Ou seja, quais os prós e contras da tecnologia na vida do escritor? Antes era muito difícil, tinha que ficar indo na gráfica... hoje recebe-se tudo muito rápido. Facilitou por esse lado mas agora quase todos os livros podem ser acessados e lidos pelo computador ou celular.
ABDIAS CASTRO - A tecnologia cumpriu supriu a necessidade de aproximar o escritor do leitor. Não tenho nenhum 'contra' à tecnologia. Assim, o que poderia apontar como negativo seria que está tudo misturado, o que presta e o que não... eu nem posso dizer que não presta, porque cada um tem seu gosto. Mas assim, tá tudo misturado...o ouro e o que você possa imaginar está tudo ali. O leitor é quem vai formatando dentro do contexto digital que nós vivemos hoje, aquilo que ele acessa é o que as redes vão enviar pra ele. Quanto mais você acessar bons escritores, bons livros, é por ali que você será endereçado para aquele destino. Eu escrevo desde os 16 anos, eu escrevia e guardava tudo sem esperança de poder algum dia ter um canal como esse seu do Jc24horas pra gente estar falando sobre isso. Mas se a era digital já tivesse chegado nos meus 16 anos, eu poderia ter falado do meu livro que eu estava escrevendo, das histórias em quadrinhos que desenhei. Mas eu não tinha nenhum acesso. Me lembro que enviei 5 revistas desenhadas por mim à antiga editora Vecchi, que publicava Tex, Ken Parker... recebi a resposta quase um anos depois. E era: "só publicamos autores estrangeiros". Assista ao vídeo:
Da redação