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À mesa de jantar, a máxima de que não se deve discutir política e religião ainda impera muitas vezes. Mas no que diz respeito à televisão as produções cada vez mais ousadas, nacionais e internacionais, encontraram nesses assuntos, especialmente no primeiro, uma fonte inesgotável de material que pode render de dramalhões genéricos a obras premiadas. Dada a situação política nacional nos últimos anos, não é de estranhar que a segunda incursão da Netflix no mercado de séries nacionais, que cresce exponencialmente, gire em torno da corrupção e de tudo que diz respeito a isso. Com o nome forte de José Padilha assinando a criação, ao lado de Elena Soarez (de Filhos do Carnaval), e Selton Mello como protagonista, O Mecanismo é a aposta do ano da empresa no Brasil. Mesmo que isso signifique mexer em um vespeiro do qual a maioria das empresas preferiria ficar longe. “Acho corajosa esta tentativa de falar de algo no calor dos acontecimentos”, elogia Mello. “Fazer uma obra sobre algo que aconteceu no passado é mais fácil, contar algo que se passa agora me pareceu algo bem forte e completamente diferente de tudo que já fiz.”

35be065e28e32ea4973d2324eda9ad3aFoto: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

“Entendo que a polarização seja uma realidade, mas não participo desse raciocínio partidário”, argumenta o ator sobre o “fla x flu” político que toma conta das redes sociais – e deve se estender à série. “Eu sempre procuro pautar minhas escolhas em um tripé que inclui: um grande personagem, um roteiro bem construído e um grande diretor. Todo este tripé estava a postos nesta série. Entendo que existe radicalismo nesse tema, mas isso não pode colaborar na medida das minhas escolhas.”

Mello interpreta o problemático Marco Ruffo, um delegado aposentado da polícia federal que é mentor da dedicada agente Verena (Carol Abras, de Avenida Brasil). Logo no piloto, o clichê do “qualquer semelhança não é mera coincidência” é algo que vem gritado nas entrelinhas de tudo que é dito e mostrado. É impossível não se pegar em um jogo de identificar os fatos, personagens e tramoias com o que vemos há tanto tempo no noticiário, especialmente a partir do que é esclarecido por meio da narração em off – uma marca registrada de Padilha. Ruffo, por exemplo, que conduz a história, é inspirado no policial paranaense Gerson Machado, cujo trabalho é tido como o “marco zero” da operação Lava-Jato. A partir da história dele, Padilha e a equipe construíram uma série que esbarra em várias questões polêmicas. Padilha encara a natureza sensível do tema de forma bastante corajosa. “A imprensa já mexeu nesse assunto de uma maneira muito intensa”, reflete Padilha. “São muitas denúncias, abundância de provas. A nossa série não vai chocar pelas revelações porque o brasileiro já está anestesiado. A nossa contribuição talvez seja com uma explicação dessa ideia de que a corrupção é uma questão ideológica, mostrando que ela está dos dois lados.”

Veterano do cinema e da TV no Brasil e com uma recém-anunciada carreira internacional, Selton Mello está encarando a personificação de Ruffo muito mais como um papel que acrescenta a ele como ator do que como algo que acrescenta lenha na fogueira do debate político. “Nunca me interessei por política, achei que me debruçar sobre o assunto era uma forma de crescimento pessoal também”, afirma Mello. “Não apoio nenhum partido ou candidato, essa foi minha formação, esse é meu limite. Estamos falando de corrupção e do mecanismo que as sociedades encontram para instalá-la, e como isso afeta tudo ao redor. A corrupção não tem lado nem bandeira, ela simplesmente existe.” E, para ele, pode sim deixar de existir: “Quanto ao Brasil, acredito verdadeiramente no nosso país e, apesar de estarmos passando por um momento muito difícil, estou confiante de que isso nos conduzirá a um lugar melhor”.

Fonte: Rolling Stone