Há uma semana, o presidente Michel Temer (MDB) escancarava o que até então era sussurrado em Brasília, em meio ao espanto de muitos: é real a vontade de disputar a sua própria sucessão, em outubro próximo. Independente da vontade e da máquina administrativa que tem à mão, qualquer analista enxergava um bocado de pedras interrompendo a caminhada eleitoral do presidente. Com os episódios dessa quinta-feira, as pedras parecem agora uma montanha.
A aposta de Temer em si mesmo partia precisamente de duas condições do processo. A primeira, a máquina de governo, que no Brasil costuma ter influência significativa nas escolhas eleitorais. A segunda, a alta fragmentação com uma penca de postulantes, que pode tornar competitivo um candidato com pouco mais de 15% dos votos. O presidente olhava para essas condicionantes e esquecia de diversas outras, a principal a enorme impopularidade do próprio mandatário.
Com as prisões da quinta-feira – foram presos seu amigo-advogado e outro amigo-faz-tudo – , a teimosia do presidente fica cada vez mais distante de transformar-se em sonho. Michel Temer já conta com uma certa dificuldade de contar apoios explícitos no Congresso. E se esse apoio está difícil na forma de voto em uma determinada matéria legislativa, fica ainda mais complicado quando se pensa em ver um político subir o palanque para discursar ao lado e a favor do presidente.
Nem todo mundo é Carlos Marum.
Nesse quadro, a já algo obstruída estrada eleitoral de Temer fica quase intransitável, tantas são as pedras no caminho: a impopularidade não dá sinais de arrefecimento; o desemprego teima em ficar nas alturas; a economia não deslancha; e a segurança está longe de mostrar sinais positivos.
Ou, para fazer referência ao slogan do governo Temer: nem ordem, nem progresso e nem voto.
O Plano B que poucos querem ser
Temer quer ter um candidato a presidente da República para chamar de seu. E se os fatos levarem à conclusão de que não pode ser ele mesmo, o ocupante do Jaburu vai buscar um que defenda o seu “legado” – seja lá o que isso signifique. Há alternativas mas, por enquanto, nenhuma empolga.
O nome mais próximo de Temer é Henrique Meireles, que deixa o ministério da Fazenda para manter o sonho da candidatura, agora pelo MDB. Meireles encanta o chamado mercado, mas não tem cacoete popular, a começar por uma voz nem sempre compreensível.
Outra possibilidade é Rodrigo Maia (DEM): reformista e sintonizado com o mercado, tem o feitio do governo Temer, mas não exatamente as bênçãos do presidente. Pode até vir a ser o defensor do legado, mas por falta de opção.
Há ainda um outro senão: desejará Rodrigo Maia – ou qualquer outro – defender tal legado?
Fonte:cidadeverde.com